sexta-feira, 27 de março de 2009

Convergência Digital


Convergência digital foi um conceito que surgiu, em primeira mão, para recobrir o movimento de aproximação dos setores das telecomunicações e da tecnologia da informação, uma aproximação perspectivada sobretudo a partir do movimento de digitalização das telecomunicações.

A tecnologia da informação - toda a que diz respeito ao hardware e software dos computadores - constitui um mundo por natureza digital. Posteriormente, algo de semelhante - a digitalização, e portanto a entrada para a área da convergência - veio progressivamente a acontecer com os setores do áudio (música), da imagem fixa (fotografia) e do audiovisual.

Uma convergência [tecnologicamente] permitida pela “banalização” digital da forma assumida pelos diferentes tipos dos “principais” sinais da comunicação humana. Ou seja, os sinais destinados a serem ouvidos e os sinais destinados a serem vistos - pois foram estes que se tornaram o objecto das telecomunicações e da teledifusão, quer sonora quer televisiva (os outros sinais de comunicação à distância, os do olfato “ainda” não entram neste tipo de atividades). Com efeito, quer os sinais destinados a ser ouvidos quer a ser vistos foram tradicionalmente tratados de forma analógica nas redes de telecomunicações e de teledifusão.

Assim, a base tecnológica empregada pela tecnologia da informação, a digital, era bastante diferente da que servia de base ao tratamento e transmissão dos sinais elétricos analógicos que reproduziam os seus equivalentes sonoros (voz no telefone, música e voz na teledifusão) ou visuais (as imagens da televisão, do cinema ou da fotografia). Mas, a partir do momento em que passaram a existir as necessárias condições de conhecimento científico, de saber fazer tecnológico e de produção e oferta economicamente viáveis, e que os diversos tipos de sinais passaram a ser descritos de forma semelhante, apareceram as referências à convergência.

É óbvio que - neste momento - o leitor estará no seu pleno direito, e com razão, de chamar a atenção, de quem estas linhas escreve, para o fato de historicamente as telecomunicações terem começado por um meio de comunicação digital - a telegrafia - e não analógico - o telefone só viria a ser inventado algum tempo mais tarde. É verdade. E a telegrafia foi-se desenvolvendo, nomeadamente estabeleceu-se através da rede telex. Mas, em termos de meios infraestruturais de telecomunicações, teve de “submeter-se” aos meios de transmissão analógicos, estes voltados para o enorme “peso” do serviço telefônico.

Portanto, repegando agora no fio da meada, uma convergência, a digital, entre setores diferentes, perspectivada desde logo pelos fabricantes dos diversos tipos de equipamentos destas áreas. A eles, apareceu-lhes tal convergência como um desenlace lógico: estabelecimento de sinergias transversais (intersetoriais) novas, quer no alargamento de mercados quer nos sistemas produtivos; obtenção de economias de escala mais amplas e, sobretudo, de economias de âmbito, através de investimentos utilizados simultaneamente para a fabricação de produtos de diferentes áreas conexas do novo supersector em construção.

O novo conjunto tecnológico resultante, ou a resultar, do processo de convergência passou a ser designado pela sigla ICT (Information and Communication Technologies), um nome que se expandiu com grande rapidez, em particular através das atividades de Investigação e Desenvolvimento dos Programas Quadro da União Europeia desenvolvidas por consórcios multinacionais e multi-setoriais - um terreno muito fértil para o lançamento e adoção de siglas “ganhadoras”. E, no que toca a outras línguas, a sigla ICT viu também a sua consagração. Em português, virou TIC (tecnologias da informação e comunicação), ou melhor TICs...

Digitalização

Em 1990, Pierre Lévy já sinalizava sobre as mudanças no modo de viver, conviver e pensar das pessoas advindas do contato com o mundo da informática e das telecomunicações. Novas relações com o conhecimento e com o trabalho. Novos conceitos. Hoje, é possível transmitir ou comunicar-se ao vivo de quase qualquer lugar, por meio de uma aparelhagem móvel que pode ser portada por uma pessoa apenas.

Caem de vez os limites tecnológicos entre o rádio, a tv, o computador e o telefone, indicando que continua o movimento de convergência entre tecnologias (BIANCHETTI, 2001). A tecnologia do videofone, já conhecida por meio da videoconferência, vem possibilitando uma mobilidade e agilidade nas comunicações nunca vistas. Basta comparar o equipamento de videofone, com as equipes de televisão, com seus veículos, antenas, microfones e câmeras, para transmissão ao vivo. Esta tecnologia, que vem possibilitando a “guerra on-line” e que já integra a telefonia celular, unindo áudio e imagem na comunicação, só é possível graças à digitalização.

Lévy (1993) coloca como essencial para falar de uma cultura informática, esta possibilidade de digitalização que atinge todas as técnicas de comunicação e de processamento de informações. A codificação digital coloca sob o mesmo formato as linguagens do cinema, televisão, rádio, jornalismo, edição, música, informática etc., e as interconecta.

Uma imagem digitalizada, isto é, transformada numa série de números digitais, pode ser transmitida, armazenada, editada, recortada, ampliada ou reduzida, acrescida de comentários, anexada a um texto, animada. A digitalização permite armazenar em pequenos espaços imensos volumes de informações. No caso das transmissões por videofone, via satélite, a imagem e o som captados, são convertidos em sinais digitais que são transmitidos e podem ser retransmitidos e recuperados conforme necessário para a apresentação em tempo real. Este é um exemplo vivo da convergência entre os mais variados tipos de tecnologia, que unem o rádio, a televisão, a informática, enfim, todas as mídias em equipamentos cada vez menores, potentes e interativos.

Para Nicholas Negroponte (1996), o viver digital consiste em abandonar os átomos pelos bits. Esta mudança, no seu entender, é irreversível. O mundo que emerge na e da internet é, em síntese, o mundo dos bits, o espaço-tempo da vida digital. A internet, com sua formação em rede, mesmo tendo origem na organização militar, desenvolveu-se sem hierarquia, sem regras pré-estabelecidas, seu único imperativo categórico é estar conectado. Moraes (2000, on-line) nos diz que “ao plugar-se, o internauta recebe o passaporte carimbado para o ciberespaço”. Um ciberespaço onde a hierarquia e a burocratização não conseguiram se estabelecer, uma desordem mais ou menos saudável onde todos podem ser emissores e receptores. A interação incentivando processos tecnocomunicacionais de inserção político-social de forças contra-hegemônicas, sobrepujando os filtros ideológicos e os políticos editoriais dos complexos de mídia”. (MORAES, 2000, on-line). Nesse sentido, podemos dizer que a internet é uma alternativa para transcender os discursos institucionalizados que escondem a dominação sob uma aparente cientificidade. Para situar-se como sujeitos políticos e sociais independentes das determinações da burocracia e da organização. Livres para aproximar-se do “saber instituinte, negador e histórico” (CHAUÍ, 1981, p.13). Harmonizando as tendências, Andréa Ramal (2002, p. 75) considera as correntes de pensamento mais moderadas em relação às tecnologias intelectuais como um caminho mais seguro, “não um entusiasmo cego nem acrítico, mas um distanciamento criterioso e a defesa de uma utilização produtiva da máquina e das mídias como instrumentos a serviço do homem [...]”.

Deste modo, podemos constatar que a internet suscita diferentes discursos. Em um extremo temos pensadores pró-internet, como Pierre Lévy, que contrapõe à idéia do sujeito inteligente a idéia do coletivo inteligente, constituído pelo sujeito e pelo grupo humano do qual ele faz parte. Conceitua o sujeito como “um dos micro-atores de uma ecologia cognitiva que o engloba e restringe” (LÉVY, 1993 p.135). O autor considera que a inteligência coletiva une seres humanos, instrumentos e instituições num enorme conglomerado cognitivo.